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Guerra do Chaco

A Guerra do Chaco foi um conflito que aconteceu entre Bolívia e Paraguai entre os anos de 1932 e 1935. A guerra foi causada por causa da disputa territorial pela região de Gran Chaco.

Avião usado pelos paraguaios para evacuar soldados com ferimentos graves durante a Guerra do Chaco (1932-1935)
Avião usado pelos paraguaios para evacuar soldados com ferimentos graves durante a Guerra do Chaco (1932-1935)
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A Guerra do Chaco foi um conflito travado entre Bolívia e Paraguai nos anos de 1932 a 1935. Esse foi o maior conflito que aconteceu na América do Sul durante o século XX e colocou em disputa uma grande e inóspita região conhecida como Gran Chaco ou Chaco Boreal. Ao longo dos três anos de conflito, cerca de 90 mil pessoas morreram. A Guerra do Chaco é bastante estudada por estrategistas militares por causa da importância estratégica que blindados e aviões de guerra tiveram durante o confronto.

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Causas da Guerra do Chaco

A Guerra do Chaco é considerada mais um capítulo da luta da Bolívia para obter uma saída para o mar. Essa luta da Bolívia era (e é até hoje) uma grande causa nacional desde que os bolivianos foram derrotados com os peruanos na Guerra do Pacífico, travada contra o Chile. Essa derrota custou-lhes a saída para o Oceano Pacífico.

A atual região do Chaco paraguaio era conhecida na época como Gran Chaco ou Chaco Boreal. Era um território semiárido, bastante inóspito, pouco povoado e disputado por diversos países. A disputa pela região entre bolivianos e paraguaios iniciou-se na década de 1850. Os bolivianos alegavam ter direito na região com base no período colonial – mesmo argumento utilizado pelos paraguaios.

Logo após a Guerra do Paraguai, os argentinos tentaram estender seu domínio sobre a região, mas foram impedidos por Brasil e Estados Unidos, que agiram diplomaticamente para assegurar o domínio desse território aos paraguaios. Após a Bolívia perder sua saída para o Oceano Pacífico na guerra contra os chilenos, a disputa pelo Chaco Boreal foi reacendida.

Acesse também: Causas da Guerra do Paraguai

Os interesses dos bolivianos no Chaco Boreal era pelo fato que, a partir disso, eles conseguiriam ter acesso ao Rio Paraguai, o que lhes garantiria o vital acesso ao oceano a partir da Bacia do Prata. No caso do Paraguai, a disputa contra os bolivianos assumia a forma de resguardar a sobrevivência nacional.

Caso a região do Gran Chaco fosse tomada pela Bolívia, o Paraguai ficaria restrito a um pequeno território, que poderia futuramente ser alvo de ambições de anexação por parte de seus vizinhos. Além disso, essa região que fica ao norte do território paraguaio tinha uma razoável importância econômica na criação de gado.

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A situação entre as duas nações agravou-se quando, no começo da década de 1920, foram descobertos pela Standard Oil poços de petróleo em território boliviano. A obtenção de uma saída para o mar para a Bolívia ganhou mais importância ainda, uma vez que a logística de transporte até o Pacífico era complicada. O transporte do petróleo pela Bacia do Prata sofria com os altos impostos cobrados pela Argentina.

Além disso, surgiu a esperança tanto nos representantes da Standard Oil como nos representantes do governo boliviano que as fontes de petróleo se estenderiam pelo Gran Chaco e, assim, a tensão pelo controle da área cresceu. Os paraguaios começaram a incentivar a povoação da região para barrar as ambições bolivianas, e os dois países iniciaram uma corrida armamentista.

Os historiadores falam que os dois países começaram a empenhar as suas economias para adquirir armamentos modernos, tais como equipamentos de artilharia, metralhadoras e rifles. O historiador Helder Gordim da Silveira fala que, por isso, a Guerra do Chaco foi uma espécie de laboratório de testes para alguns armamentos que foram utilizados durante a Segunda Guerra Mundial|1|.

Início da Guerra

Soldados bolivianos no controle de armamentos antiaéreos nessa foto tirada em 1934
Soldados bolivianos no controle de armamentos antiaéreos nessa foto tirada em 1934

As relações agravaram-se à medida que a Bolívia foi reforçando suas intenções de ocupar a região. Na década de 1920, os bolivianos construíram postos avançados no Gran Chaco como forma de reforçar sua presença. Os postos avançados pelos bolivianos ficavam nas proximidades do Rio Pilcomayo e chamavam-se Ballivián e Guachalla.

A tensão na década de 1920 levou inclusive a um pequeno incidente entre as duas nações em dezembro de 1928. O incidente começou quando forças paraguaias atacaram os bolivianos no Fortim Vanguardia. Houve também registros de ataques aéreos realizados pelos bolivianos em Bahía Negra como represália, além de ataques, também dos bolivianos, ao Fortim Boquerón.

A guerra oficialmente se iniciou no dia 15 de junho de 1932, quando o exército boliviano atacou as posições onde os paraguaios estabeleceram-se nas proximidades de um pequeno lago conhecido como Pitiantuta (os bolivianos chamavam o mesmo lago de Chuquisaca). Nesse ataque, os bolivianos concentraram a sua força contra o Fortín Carlos Antônio López.

O ataque dos bolivianos aconteceu sem a autorização do presidente do país, Daniel Salamanca (1931-1935). Mas uma vez iniciado o conflito, o presidente autorizou o envio de mais tropas bolivianas para reforçar a luta. As hostilidades prosseguiram em julho, e o conflito localizado transformou-se em um confronto de grandes proporções.

Em termos militares, a capacidade boliviana na guerra era superior à paraguaia. As tropas bolivianas, em números, superavam as tropas paraguaias. Além disso, por possuir uma economia mais forte, os bolivianos conseguiam comprar quantidade maior de armamentos. As tropas bolivianas eram lideradas por um militar alemão contratado pelo governo boliviano. Seu nome era Hans Kundt.

Apesar disso, os bolivianos não conseguiram impor-se no campo de batalha. A respeito disso, os historiadores levantam o uso de estratégias de guerra já antiquadas por Hans Kundt e a dificuldade logística que a Bolívia tinha de apoiar seus soldados no fronte. A soma desses fatores levou a Bolívia à derrota.

Derrota da Bolívia

Ao longo da guerra, os bolivianos mobilizaram aproximadamente 210 mil soldados, dos quais 60 mil morreram. Além disso, a nação estava economicamente estrangulada após anos de guerra e de derrotas sendo acumuladas (o país ainda sentia os efeitos da Grande Depressão / Crise de 1929). Em 1935, o país já havia abdicado de suas pretensões no Gran Chaco.

Em junho de 1935, os dois países assinaram um armísticio que colocou fim ao conflito definitivamente. O saldo de mortos foi de aproximadamente 90 mil (60 mil bolivianos e 30 mil paraguaios), e a quantidade de dinheiro empreendido no conflito foi de aproximadamente 350 milhões de dólares.

Com o armísticio, ficou definido que os paraguaios ficariam com ¾ do Gran Charco, e os bolivianos ficaram com apenas ¼. Apesar da derrota, os bolivianos conseguiram um acesso ao Rio Paraguai pelo Puerto Busch. As suspeitas da Standard Oil e do governo boliviano de que haveria petróleo no Gran Chaco não se concretizaram.

Nota

|1| SILVEIRA, Helder Gordim da. A visão militar brasileira da Guerra do Chaco: projeção geopolítica e rivalidade internacional na América do Sul. Para acessar, clique aqui.


Por Daniel Neves
Graduado em História

Escritor do artigo
Escrito por: Daniel Neves Silva Formado em História pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) e especialista em História e Narrativas Audiovisuais pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Atua como professor de História desde 2010.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SILVA, Daniel Neves. "Guerra do Chaco"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/guerras/guerra-chaco.htm. Acesso em 29 de março de 2024.

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