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Guerra Civil Russa

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A Guerra Civil Russa aconteceu no território russo entre 1918 e 1921, embora muitos historiadores apontem que o conflito iniciou-se no final de 1917. Foi resultado do surgimento de um movimento de resistência aos bolcheviques. Essa resistência contrarrevolucionária, conhecida como “brancos”, lutou até a sua derrota final em 1921.

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Acontecimento marcante para a história russa, essa guerra possibilitou a consolidação dos bolcheviques no poder do território russo. Por meio desse conflito, os bolcheviques conseguiram expurgar seus adversários tanto dentro do Partido Comunista e, principalmente, fora dele. A guerra deixou um saldo de destruição e resultou na morte de cerca de 10 milhões de pessoas.

A Guerra Civil Russa foi responsável pela morte de milhões de camponeses, vítimas da falta de alimentos.[1]
A Guerra Civil Russa foi responsável pela morte de milhões de camponeses, vítimas da falta de alimentos.[1]

Tópicos deste artigo

Antecedentes: Revolução Russa

A Guerra Civil Russa está diretamente relacionada com a Revolução Russa, de 1917. Isso porque, em outubro de 1917, os bolcheviques realizaram a tomada de poder de locais estratégicos de Petrogrado (atual São Petersburgo), a capital russa na época, e derrubaram o governo provisório que estava instalado na Rússia desde o começo do ano, quando caiu a monarquia czarista.

Sob a liderança de Vladimir Lenin, os bolcheviques proclamaram um Governo dos Operários e Camponeses e iniciaram o período de montagem de um novo Estado na Rússia. Na teoria, o Estado bolchevique surgia para atender aos interesses dos sovietes, mas, na prática, à medida que o Estado socialista foi sendo construído por Lenin, os sovietes foram sendo afastados do poder.

Junto da reconstrução do Estado russo, os bolcheviques também retiraram o país da Primeira Guerra Mundial, conflito que há anos sangrava a economia russa e contribuía para aumentar o sofrimento da população. Para isso, os bolcheviques assinaram o Tratado de Brest-Litovsk, no qual os russos aceitaram realizar enormes concessões de terras para alemães e turcos.

Assim que os bolcheviques assumiram o poder na Rússia, movimentos de oposição começaram a se formar no interior do país. A oposição contra os bolcheviques foi formada por diferentes grupos, tais como monarquistas, liberais, socialistas-revolucionários, camponeses, anarquistas, etc. A existência desses movimentos de resistência foi a grande responsável por levar a Rússia à guerra civil.

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Causas

A causa imediata da Guerra Civil Russa foi a oposição existente em grande parte do território russo contra o governo recém-instalado dos bolcheviques no país. Existia uma oposição muito forte de diversos grupos acerca das propostas defendidas pelos bolcheviques e por Lenin. Essa oposição contrarrevolucionária acabou sendo reforçada à medida que o governo bolchevique começou a se demonstrar intransigente e fechado para dissidências.

Os historiadores que estudam o conflito tem divergências a respeito do estopim que deu início a essa guerra. Alguns historiadores sugerem que o ponto de partida foi a dissolução da Assembleia Constituinte da Rússia, em janeiro de 1918, depois que os socialistas-revolucionários (grupo que formava o Governo Provisório antes da Revolução de Outubro) derrotaram os bolcheviques na eleição.

Outros argumentam que a assinatura do Tratado de Brest-Litovsk – rendição da Rússia para os alemães na Primeira Guerra Mundial – foi o momento decisivo, uma vez que mobilizou forças reacionárias na Rússia contra o governo, pois esses grupos desejavam prosseguir na guerra contra os alemães.

Por fim, outros historiadores argumentam que o início da guerra civil está relacionado com grupos rebeldes liderados por Kornilov, que desde 1917 já tentavam tomar o poder na Rússia. De toda forma, podemos afirmar que o elemento que agrupa todas essas pontuações feitas pelos historiadores é o mesmo: a oposição que existia contra os bolcheviques.

Combatentes

Leon Trotsky foi nomeado por Lenin para comandar o Exército Vermelho durante a Guerra Civil Russa.[2]
Leon Trotsky foi nomeado por Lenin para comandar o Exército Vermelho durante a Guerra Civil Russa.[2]

Como mencionado, a Guerra Civil Russa ficou marcada pela atuação de diferentes grupos. Todos eles se opunham contra os bolcheviques (chamados de vermelhos na guerra), mas esses movimentos de oposição também lutavam entre si. Dentro dos exércitos dos brancos, por exemplo, existiam dissidências.

Os grupos que podem ser destacados na Guerra Civil Russa são:

  • Vermelhos: O nome desse grupo faz menção ao Exército Vermelho, o exército formado às pressas pelos bolcheviques para derrotar as forças rebeldes.

  • Brancos: Formados, sobretudo, por monarquistas que desejavam restaurar a monarquia czarista existente na Rússia antes de 1917.

  • Verdes: Formados por camponeses que lutavam na defesa de seus próprios interesses no interior da Rússia. Os verdes lutavam tanto contra vermelhos como contra os brancos.

  • Pretos: Anarquistas ucranianos que surgiram com o interesse de defender a existência dos sovietes ucranianos. Queriam montar uma sociedade sem Estado que fosse autogestionada pelos sovietes.

A Guerra Civil Russa ainda contou com o envolvimento de uma série de nações estrangeiras, interessadas em derrubar os bolcheviques do poder. O conflito contou com a presença de tropas francesas e britânicas, por exemplo. Outros países importantes que interferiram no conflito foram japoneses e norte-americanos. Muitas vezes, as tropas estrangeiras cooperaram com os brancos ao longo do conflito.

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  • Movimento branco

Como mencionamos, o movimento branco não estava unificado, e existia uma gama de interesses nos diferentes grupos brancos que se espalhavam pelo território russo. Aquilo que os unia era a oposição aos bolcheviques, mas ao longo da guerra existiram grupos brancos que lutaram entre si. Como não havia unificação entre os brancos e como eles estavam espalhados pelo vasto território russo, os vermelhos tiveram certa vantagem ao lutar contra eles.

Os brancos, em sua grande maioria, eram saudosos da monarquia czarista e, portanto, desejavam restaurá-la depois de ter sido destituída do poder. Esse grupo mobilizava, por exemplo, cossacos (povo da região sul da Rússia), nobreza e alguns camponeses, mas ao longo da guerra tiveram certo apoio até de socialistas-revolucionários e liberais.

Os brancos, por sua vez, não contavam com muito apoio da população do interior da Rússia, haja vista que eles não eram a favor da reforma agrária, que tinha sido incentivada pelos bolcheviques, e não defendiam os movimentos de autodeterminação surgidos na Rússia ao longo da guerra civil (os vermelhos apoiavam esses movimentos desde que dentro da estrutura de poder dos próprios bolcheviques).

Por fim, o fato de os brancos defenderem a monarquia czarista era um ponto que naturalmente afastava muitos camponeses, já que o czarismo tinha ficado marcado na memória coletiva dos camponeses como um regime que os oprimiu durante séculos.

Principais combates

É muito comum abordar a Guerra Civil Russa como um conflito que se estendeu de 1918 a 1921, mas existem historiadores que consideram que o conflito iniciou-se no final de 1917. De toda forma, o primeiro destaque a ser feito é a formação de uma força rebelde, chamada de Exército Voluntário, na região do rio Don (na Ucrânia) sob a liderança de Alekseev e Kornilov.

Tempos depois, esse grupo juntou-se com uma força de cossacos instalados na região de Kuban, também nas proximidades do Don. A partir de 1919, o Exército Voluntário deu origem a um grupo chamado Forças Armadas do Sul da Rússia, sob a liderança de Anton Denikin – que comandou o Exército Voluntário depois que Alekseev e Kornilov morreram.

Esse Exército Voluntário formou a maior força de oposição aos bolcheviques na guerra civil e alcançou seu auge em meados de setembro de 1919. O historiador Daniel Orlovsky sugere que um erro estratégico foi o responsável pelo enfraquecimento desse grupo. Seu líder, Denikin, ordenou a divisão das forças, o que os levou à derrota. Em 1920, os sobreviventes desse grupo acabaram fugindo da Rússia, o que praticamente colocou fim à resistência branca.

Forças de oposição surgiram em outras partes da Rússia, como grupos de brancos que passaram a controlar a região da Sibéria, chegando, inclusive, a formar um governo provisório naquela região em 1918. Esse governo logo passou a se chamar Governo Supremo e foi liderado por Koltchak, mas deixou de existir depois que seu comandante foi morto pela polícia secreta dos bolcheviques.

Soldado do Exército Vermelho que foi capturado pelas tropas brancas.
Soldado do Exército Vermelho que foi capturado pelas tropas brancas.

A antiga capital da Rússia também foi alvo do ataque de forças brancas. O general Nikolai Iudenitch ordenou um ataque contra Petrogrado, mas fracassou e acabou tendo que fugir da Rússia para sobreviver. O governo bolchevique também lidou com levantes em regiões como a Polônia e os países bálticos. Até mesmo em Moscou (a nova capital) houve um levante contra os bolcheviques – organizado pelos socialistas-revolucionários.

Houve ingerência de tropas britânicas, francesas, americanas e japonesas em diferentes regiões do território russo. Os japoneses, por exemplo, invadiram território no Extremo Oriente; os britânicos invadiram territórios russos na região da Ásia Central, e os franceses enviaram tropas para a região da Crimeia.

Os bolcheviques tiveram que lidar com todos esses (e muitos outros) desafios ao longo dos anos da guerra civil. O país não possuía uma força militar consistente para garantir a vitória da revolução e, por isso, foi formado o Exército Vermelho, que foi entregue à liderança de Leon Trotsky. Na virada de 1920 para 1921, os bolcheviques conseguiram consolidar a sua vitória.

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Por que os bolcheviques venceram?

A vitória dos bolcheviques é explicada a partir de diversos fatores. Primeiro, é importante considerar que o Exército Vermelho controlava territórios mais centrais da Rússia, o que lhes garantia melhor locomoção e facilitava o deslocamento de recursos.

A existência de uma estrutura administrativa à frente da Rússia facilitava a ação dos vermelhos, pois garantia maior disponibilidade de novos soldados e acesso facilitado à produção de recursos vitais para sustentar as tropas. Uma das marcas dessa guerra foi a ação do governo bolchevique de apropriar-se da produção de alimentos dos camponeses. Isso manteve as tropas alimentadas, mas levou milhões de camponeses à morte por inanição.

A ideologia dos bolcheviques foi muito importante para a vitória porque tinha grande atração sobre operários, o que garantiu um apoio popular com o qual os brancos não contavam. Daniel Orlovsky ainda sugere que os comandantes das forças eram péssimos administradores e tomavam decisões que contribuíram para afastar a população russa dos brancos|2|.

Na questão ideológica, os bolcheviques conseguiram também um ótimo triunfo ao ser atacado por forças internacionais. O ataque de tropas estrangeiras permitiu aos bolcheviques explorar o discurso do “ataque imperialista contra a revolução”. Depois de vencerem o conflito, os bolcheviques saíram fortalecidos e conseguiram consolidar o seu poder sobre todo o território russo. Com isso, foi fundada a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.

Consequências

A Guerra Civil Russa contribuiu para aumentar o sofrimento da população russa, já afetada por séculos da opressão czarista e pelos anos de envolvimento na Primeira Guerra Mundial. A Guerra Civil Russa foi responsável por milhões de mortos, que foram vitimados pelos combates, pela fome, pelas doenças e pela repressão violenta dos bolcheviques contra os opositores.

As estimativas dos mortos nesse conflito variam bastante. Existem estatísticas que apontam a morte de cerca de 4,5 milhões de pessoas e outras estimativas que apontam a morte de 10 milhões de pessoas.

A economia do país estava arrasada após anos de guerra e de agitação revolucionária. A solução encontrada por Lenin foi a de realizar uma reabertura econômica da União Soviética e, diferentemente do que acreditava, retornou o país para uma economia de mercado com o objetivo de atrair investimento estrangeiro que possibilitasse a recuperação econômica do país. Isso ficou conhecido como Nova Política Econômica.

Notas

|1| ORLOVSKY, Daniel S. A Rússia na guerra e na revolução. In.: FREEZE, Gregory L. História da Rússia. Lisboa: Edições 70, 2017, p. 321.

|2| Idem, p. 322-323.

Crédito das imagens:

[1] Everett Historical e Shutterstock

[2] Olga Popova e Shutterstock


Por Daniel Neves
Graduado em História

Escritor do artigo
Escrito por: Daniel Neves Silva Formado em História pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) e especialista em História e Narrativas Audiovisuais pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Atua como professor de História desde 2010.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SILVA, Daniel Neves. "Guerra Civil Russa"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/guerras/guerra-civil-russa.htm. Acesso em 29 de março de 2024.

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